Por que devo ler este artigo? A nova lógica de consumo não gira mais apenas em torno de produtos, mas de sensações e significados. Neste artigo, você vai entender o que é a economia da aura e por que ela está moldando estratégias de marcas em diversos setores. São oportunidades reais para inovar com propósito e gerar conexão autêntica com o consumidor.
Será que o mundo está mesmo se cansando das telas? Não somente das telas, mas parece mais uma exaustão generalizada de tudo – as pessoas estão cansadas do trabalho, da rotina do seu dia a dia, da escola.
O mundo pós-pandemia parece ter jogado as pessoas em um universo paralelo, dominado pela ansiedade e, consequentemente, pelo estresse e pela fadiga.
Nesse contexto, a Economia da Aura ou Era da Aura (ou Vibe Economy, em inglês) surge como um fenômeno socioeconômico impulsionado pela busca crescente por experiências intangíveis, bem-estar holístico e conexão espiritual, em resposta ao esgotamento generalizado da era contemporânea.
Essa tendência reflete uma mudança de paradigma, em que consumidores priorizam não apenas produtos, mas emoções, significados e revitalização energética.
Como surgiu a tendência da Economia da Aura?
De onde vem e para onde vai toda essa mudança de comportamento e forma de pensar?
A “era da grande exaustão” (pós-pandemia) caracteriza-se por fadiga crônica, estresse e desgaste emocional. Nos EUA, 3,3 milhões de pessoas sofrem de fadiga crônica, enquanto práticas como quiet quitting (demissão silenciosa) ganham força.
Pode-se dizer que as raízes desse cenário estão na sobrecarga de informações, instabilidade geopolítica (“policrise”) e pressão por produtividade.
Como consequência, os consumidores buscam refúgio em práticas espirituais (reiki, meditação), ciências alternativas e experiências que restauram o equilíbrio emocional.
Toda essa busca pelo bem-estar da alma como forma de equilíbrio, faz com seja notada a ascensão do Auramaxxing – termo que se refere à prática de maximizar ou elevar a aura pessoal por meio de técnicas como massagens cerebrais, terapias energéticas e imersões sensoriais.
Essa tendência já movimenta mercados como o do bem-estar espiritual – o nicho de medicina tradicional / complementar atingiu US$ 519 bilhões globalmente em 2023.
Um exemplo prático no Brasil vem da Marca MH Studios com o lançamento do Trent Planner 2025, que promoveu uma ativação multissensorial (“Sonho Nº 274“) para reconectar consumidores à sua “criança interior” através de ambientes temáticos e narrativas oníricas.
Quais são os pilares da Economia da Aura?
A Economia da Aura não pode ser considerada apenas como um modismo. Mais que isso, ela se apoia em pilares sólidos e ancestrais:
Multissensorialidade
Produtos e serviços são desenhados para engajar múltiplos sentidos (visão, olfato, tato), criando identidades sensoriais.
Embalagens com texturas específicas e fragrâncias evocam memórias ou ambientes imersivos em eventos.
Espiritualidade pragmática
As marcas adotam narrativas que mesclam tradição e inovação, como a Metaespiritualidade (crenças personalizadas, em que o sagrado emerge do indivíduo, não de dogmas) e a Sustentabilidade Energética (projetos que equilibram bem-estar humano e ecológico, como iniciativas ESG vinculadas a práticas de cura).
Emoção como moeda
58% da Geração Z e 52% dos Millennials identificam-se como “compradores emocionais”, conectando-se a produtos que despertam sensações únicas.
Assim, campanhas publicitárias passam a ser focadas em storytelling emocional, como a da MH Studios, que usou sonhos como metáfora para liberdade criativa.
Como as marcas estão aproveitando a tendência da Economia da aura
E onde entram as marcas e o mercado? Entram em muitas oportunidades.
Exemplo disso são os produtos com aura de exclusividade como a caixa de chocolate da Louis Vuitton, que transcende o consumo para se tornar arte.
Apps de meditação com realidade aumentada simulam ambientes virtuais para “purificação energética”. Lojas físicas se tornam templos de experiências como flagships com salas de reiki integradas.
Mas não é tão simples e mágico quanto parece. Alguns desafios testam as marcas no que se refere à originalidade, criatividade e inovação.
Os consumidores rejeitam apropriação cultural superficial de símbolos espirituais. Questões de como quantificar o valor de intangíveis como “felicidade” ou “paz interior” em métricas de ROI também se apresentam como desafios reais para um mundo onde as decisões são orientadas por dados e estatísticas.
Como não só de varejo vive o mundo dos negócios, os desafios e benefícios da economia da aura também podem ser projetados para a expansão de setores tradicionais como o agronegócio: as marcas podem associar produtos agrícolas a narrativas de “alimentos com energia vital” (ex.: grãos cultivados com técnicas biodinâmicas).
Na mineração, empresas como a Aura Minerals (embora focada em ouro) ilustram como o nome “Aura” pode ser reapropriado para vincular-se à sustentabilidade e ao bem-estar comunitário.
A Economia da Aura pode ser vista como uma reconfiguração profunda do consumo, em que o valor transcende o material. Se as marcas que souberem integrar autenticidade, inovação sensorial e propósito holístico colherão não apenas lucros, mas lealdade energética de consumidores ávidos por significado.
FONTES:
Reflexões sobre a experiência e o ensino de arte: o conceito benjaminiano de “perda da aura” como parâmetro para a análise. Artigo de Rui Bragado Sousa, Diego Silva Rodrigues da Costa e Eduardo Oliveira Sanches
Escola de Frankfurt e a Indústria Cultural. Brasil Escola (UOL)
Circuitos de valorização, comercialização e colecionismo de “móveis de autor”: o reconhecimento internacional do design brasileiro. Artigo da Revista Brasileira de Ciências Sociais
O ouro mantém o brilho e ganha destaque como investimento. Artigo de Rodrigo Barbosa no site Seu Dinheiro